Tópico: TERRA DE ÍNDIO

Data 06/10/2011
De Plinio Fajardo Alvim
Assunto Comentário e informações complementares

Ótimo trabalho, J. Gabriel. Agradeço pelo grande presente que você nos dá. Aceitei o convite e viajei no tempo. Como pesquisador diletante da história regional, tenho particular interesse pelo tema e possuo, entre outras obras também afetas aos indígenas que habitaram a região - puris, cropós e croatos -, quase todas as que você citou. Inclusive a de Spix e Martius, adquirida há 12 anos, com a transcrição da ‘partitura’ de trecho de música puri. Agora, finalmente, consegui ouví-la – e melhor ainda, em linda e emocionante interpretação do Antique, gravada em Piacatuba, terra de meus antepassados, na capela-mor da Matriz construída por meu pentavô, Domingos Henriques de Gusmão. Permita-me tentar contribuir com outras informações complementares. Na Fazenda Bom Jardim, em Angustura, foram encontradas, há cerca de 20 anos, ferramentas rudimentares (machados, talvez), em pedra polida, possivelmente oriundas dos puris que viveram ou transitaram por ali, de acordo com avaliação do antropólogo Klinton Senra. Segundo o brilhante “Encontro com os ancestrais”, de Pedro Wilson Carrano Albuquerque, o ex-Governador Mineiro, ex-candidato à Vice-presidente da República e ex-Ministro da Justiça, Milton Campos, descendia de uma legítima indígena puri, sua bisavó, que recebeu o nome cristão de Cândida. Mais tarde, eu soube através de outro de seus inúmeros descendentes, Waltair do Couto, que seu nome original, em linguagem puri, seria ‘Giqtizy’. Ela teria vindo de uma aldeia localizada na Serra da Pena, ali bem perto - então pertencente ao município de Leopoldina e, hoje, localizada na divisa entre este e o de Além Paraíba. Giqtizy ou Cândida viveu nesta fazenda com o seu então proprietário, Padre Vicente Ferreira Monteiro de Castro (1802-1863), com quem teve os 10 filhos que ali nasceram, entre os quais Margarida Monteiro de Castro que viria a ser mãe do Desembargador Francisco de Castro Rodrigues Campos, nascido na Faz. da Barra (ou Barrinha), pai de Milton Campos. Pe. Vicente foi Pároco de Angustura e de Além Paraíba e, após a sua morte, em 1863, a Faz. Bom Jardim passou a seus herdeiros; sendo, posteriormente, adquirida por Cândido Cardoso Brochado, cuja filha, Maria José Cardoso, casou-se com o Cap. Domingos de Andrade Villela - um dos pioneiros da família Villela na nossa região. Hoje, apesar de fragmentada, a Faz. Bom Jardim pertence à 6ª geração dessa mesma família. Na Faz. Bom Jardim também nasceu o ex-Deputado Estadual Fluminense José Miguel, militante em movimentos da cultura negra, autor da Lei que criou o Monumento a Zumbi dos Palmares - no Rio de Janeiro; tendo sido, também, candidato à Prefeito daquela cidade em 1996. Curioso notar que, mesmo nos dias atuais, aqui na região, ainda se ouve a expressão “Fulano/a é Puri”, quando alguém quer se referir a uma pessoa que possui tez escura, acobreada, quase negra, e cabelos lisos. Também ainda é comum ouvir-se coisas do tipo “Minha avó/bisavó era puri e foi pega a laço”. Um abraço. Plinio Fajardo Alvim.

 

© 2011 Todos os direitos reservados.

Crie um site grátisWebnode