_ Algo mais, meu Sr?
_Mais meio metro de texto!
Meio metro parece-nos bom tamanho! Falta-nos, apenas, ajustar o comprimento do texto ao da música já tecida. Alguém nos indicaria un bon tailleur? Os puristas que nos perdoem; mas “tailleur” é musicalmente mais sonoro que “alfaiate” _ ainda que ambos exerçam com arte o mesmo ofício. Concluída a peça, o que temos não é novo “terno”, mas sim novo “termo”, de incontestável ascendência francesa: MOTET (mot: palavra) _ no mais puro português: MOTETO.
Gênero musical polifônico, surgido por volta do século XII ou XIII, os primeiros MOTETOS constituíam forma bastante peculiar de compor. Regras de etiqueta a parte, várias vozes, com diferentes discursos, falavam ao mesmo tempo. O que poderia tornar-se tumulto tornava aqueles MOTETOS tipo de composição deveras interessante. A discurso sacro, muitas vezes composto de única palavra ou frase, sobrepunham-se um ou mais textos profanos.
Nos primeiros MOTETOS, o discurso sacro (em latim) constituía a base _ cantus firmus_ sobre a qual flutuava melodia mais aguda _ duplum_ com texto profano (parfois, en français). Por vezes, identificamos terceira melodia _ triplum_ com ritmo mais agitado e texto igualmente profano, mas que não necessariamente guardava relação com o primeiro. Nos séculos subsequentes, a estrutura do Moteto passou por diversas alterações sendo comum, já no século XV, a utilização de texto único.
Mas é justamente a sobreposição de assuntos e vozes, de amores profanos e de amor divino o que confere espírito e riqueza a modelo de composição desenvolvido em tempos longínquos. Na era da internet e da circulação de textos, alguns de vocês, caros leitores, sequer tiveram a oportunidade de apreciara um daqueles MOTETOS. Neste aspecto, os compositores medievais, verdadeiros artífices da palavra, estavam gigas e gigas a nossa frente; afinal, o computador sequer existia e eles já eram mestres na arte de copiar e colar! Ainda há os que acreditam que eles é que eram medievais....Texto tecido! Tudo dito!
_ Um MOTETO, por favor!
_Ou melhor, dois: um legítimo séc. XIII seguido por genuíno exemplar do XVIII.
A vocês, caros leitores, o nosso à bientôt,
ANTQUE
Contribuição: Mara Max